Você está com a colher na mão, pronta para dar a papinha a seu filho, mas ele não abre a boca até a babá aparecer. Pela terceira noite seguida, a menina pede que o pai, só ele, leia o livro predileto dela antes de dormir. A empregada prepara a criança para ir à escola e faz uma "linda" maria-chiquinha – que obviamente você faria melhor. Seu filho telefona e diz que quer mostrar os trabalhos que trouxe da escola, mas, como você vai chegar tarde, ele decide mostrar tudo para a avó mesmo. Socorro! Se você se reconhece essas situações e sabe bem o sentimento que elas provocam, acredite: você é normal. Não há nada mais natural que sentir ciúme do filho. O problema é passar do limite. Dose certa Sentir ciúme do filho é normal, mas, como todo sentimento, em exagero pode atrapalhar a formação da personalidade da criança. "Se ela for introvertida, pode ficar sempre esperando que a mãe a proteja e, por toda a vida, vai procurar o mesmo modelo nos outros relacionamentos. Mas as crianças extrovertidas se sentirão sufocadas e reagirão com rebeldia a qualquer tipo de proteção", esclarece Ferreira-Santos. Segundo ele, são formadas personalidades frágeis e as conseqüências maiores surgem na adolescência, quando as relações sociais ganham mais importância.
Segundo o médico Eduardo Ferreira-Santos, do Instituto de Psiquiatria da USP e autor do livro Ciúme – O Medo da Perda (Editora Claridade), a confusão começa quando o ciúme é interpretado como prova de amor, segundo ele uma tendência de comportamento dos latinos. O médico pesquisou o tema em vários países e viu que, nos Estados Unidos, por exemplo, há muitos estudos científicos sobre o assunto. "Para o americano, viciado em direitos individuais, a pessoa que recebe o ciúme se sente invadida e isso é uma grande ofensa", explica. No Brasil, no entanto, o especialista avalia que não se encara o ciúme como um problema tão grave. "Talvez por causa da maneira como vivemos esse sentimento. Para nós, brasileiros, sentir ciúme faz parte do amor."
Dispensável? Eu!?
Quando a criança cresce, enxergar o limite desse amor pode ser ainda mais difícil. Você fica feliz quando percebe que seu filho é sociável, fica bem na casa dos outros, adora conversar, sorri para todos. Mas, ao mesmo tempo, pode sentir um vazio. Como se fosse uma perda – se, antes, tudo exigia a mamãe por perto, agora a criança se comporta como se a deixasse de escanteio. Não é bem assim. Claro que seu filho não vai mesmo precisar de ajuda em algumas situações – o contrário, sim, seria um problema –, e isso faz parte do amadurecimento da criança. Eduardo Ferreira-Santos explica que o desafio é compreender que o filho tem vida própria. "A arte de ser pai é saber ser dispensável." É quando a mãe se dá conta de que tem mais deveres do que direitos.
Sentir ciúme exige uma reflexão constante. A dona-de-casa Ana Cristina Santos Alfieri, 42 anos, às vezes se pega pensando se está ou não exagerando na dose com o pequeno Marco, de 7 anos. "O filho é tudo para a gente e, quando precisamos soltá-lo para o mundo, é muito difícil mesmo", confessa ela. "Eu assumo: acho que o que eu sinto pode ser ciúme, sim." Ana Cristina conta que certa vez uma professora a repreendeu na escola. Ela não lembra o porquê da "bronca", mas guardou bem o que ouviu: "Você precisa deixar seu filho crescer!" "Minha única reação foi olhar para ele, na minha frente, chupando chupeta, e pensar: como assim?"
A terapeuta familiar Sílvia Van Enck Meira analisa que a mãe vive um dilema. De um lado, está a tranqüilidade de que o filho esteja sendo bem cuidado, do outro, a "raiva" da professora que ensinou algo "no lugar dela". "A mãe deve entender que a criança vai continuar vivendo bons momentos ao lado dela também, desde oportunidades de aprendizado até gracinhas e carinhos", salienta a especialista. Mas nem sempre é fácil. Para a baiana Jacqueline Menezes, 25 anos, está complicado ser uma mãe do tipo bem-resolvida. Após os quatro meses de licença-maternidade, ela precisou deixar a filha, Beatriz, hoje com 1 ano e 4 meses, na casa da família do marido para trabalhar. Hoje, suspeita que a menina goste mais dos cuidadores do que dela própria. "Para mim, Beatriz não faz festa, mas quando vê a tia, ela ri sem parar! Às vezes, fico com muito ciúme e penso que, quando minha filha crescer, vai querer morar com eles", lamenta. Jacqueline reclama que lhe sobra apenas a hora da bronca e dos afazeres de casa. Sílvia Meira acha que o ideal é a mãe delegar o que puder em troca de momentos de aconchego com o filho. "São esses momentos que criam um vínculo forte entre a mãe e a criança. E, com esses laços fortificados, a mãe vai ter certeza de que ninguém, nunca, vai tomar o seu lugar."
Não há problema em se solidarizar com Ana Cristina Alfieri, que, quando Marco chega contando algo que adorou fazer na escola, logo pensa: "Ah, queria ter estado junto dele nessa hora". A dica é entender que outras pessoas cuidarão de forma diferente, mas sempre sob sua orientação. "A mãe precisa de ajuda para perceber que passou do limite e quem pode melhor sinalizar isso é o marido", ensina a terapeuta Sílvia Meira. Converse, desabafe com amigos, com a família e, se precisar, procure um especialista. O recado principal é: não sofra, porque ninguém vai tomar o seu lugar os creditos desta postagem pertecem a revista crescer
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
mães deixo ou fico com meu filho
coisa de mães
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